«Com a próxima reforma da PAC a Europa tem uma grande oportunidade»

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Alexandra Brand, responsável global de sustentabilidade da Syngenta, entrevistada durante o 11º Fórum para o Futuro da Agricultura (FFA), realizado em Bruxelas, a 27 de Março.

A opinião da Sociedade sobre a tecnologia de Proteção das Culturas está a mudar?

A indústria de Proteção das Culturas tem um problema de aceitação social, sobretudo na Europa, e os media refletem essa opinião. Há razões históricas para isso, algumas substâncias químicas causaram problemas graves no passado. No entanto, a tecnologia evoluiu. Se antes usávamos 2 a 3 quilos de produto fitofarmacêutico por hectare, atualmente bastam 4 a 5 gramas/hectare. E a população não está bem informada sobre esta mudança. Nós enquanto empresa não fomos eficazes a comunicar as inovações que ocorreram, o quanto os produtos evoluíram, atuando exclusivamente no alvo a controlar: a praga ou doença que afeta as plantas. Os alimentos produzidos na Europa são seguros para o consumidor.

Alguns supermercados estão a exigir alimentos com LMR (Limites Máximos de Resíduos) abaixo do que estipulado por lei. Como vê esta questão?

Os consumidores assim o exigem e, por isso, a indústria de proteção das plantas está em permanente diálogo com os supermercados e com as autoridades europeias que regulam estas matérias. Somos pela transparência do que é um nível seguro de resíduos nos alimentos e de modo algum queremos comprometer a segurança alimentar. Não é do nosso interesse. Por outro lado, queremos garantir que os agricultores fazem um bom trabalho no campo, que têm as tecnologias disponíveis para produzir de forma sustentável, com reduzido impacto na saúde do solo e com menores emissões de gases com efeito de estufa. É uma equação complicada e, por isso, estamos a dialogar com todas as partes interessadas.

A pressão das autoridades europeias é cada vez maior sobre a tecnologia de Proteção das Culturas. Como se posiciona a Syngenta neste contexto?

A tecnologia está em constante evolução e a Syngenta é uma empresa que investiga e inova na Europa. Estamos a trabalhar de forma intensa na I&D de produtos para proteção das culturas, inclusive produtos para aplicação em Modo de Produção Biológico, são ferramentas importantes para que os agricultores diminuam a pressão das doenças e pragas nas culturas. A inovação é bem-vinda na Europa e a Syngenta está bem posicionada para responder a este desafio.

A Syngenta assumiu, através do The Good Growth Plan, 6 compromissos à escala mundial para tornar as culturas agrícolas mais eficientes, respeitando o ambiente e as pessoas. Porquê?

Os agricultores precisam de muito mais do que soluções para proteger as culturas. A escolha das sementes mais adequadas ao tipo de solo e de clima, a data de sementeira e de colheita, o desafio de produzir em contexto de seca,
como aconteceu nos últimos anos em Portugal e Espanha. A Syngenta está a ajudar agricultores em todo o mundo a conhecer melhor o seu contexto produtivo. Este conhecimento ajuda os agricultores a obter maior produtividade, respeitando o ambiente e garantindo o seu rendimento. Para a Syngenta a vantagem é que estamos melhor informados sobre as tecnologias que os agricultores vão precisar no futuro. As alterações climáticas colocam grandes desafios, nomeadamente, sobre o tipo de sementes do futuro. Precisamos de perceber hoje as alterações do clima para entregar aos agricultores as sementes que vão precisar daqui a 10 anos. Estamos a recolher grandes quantidades de informação valiosa que nos ajudará a orientar a nossa I&D para o futuro. O The Good Growth Plan é importante para a Syngenta, mas também para os agricultores, o ambiente e os consumidores, que querem alimentos seguros, produzidos com baixo impacto no ambiente.

O que espera da Política Agrícola Comum (PAC) pós-2020?

Com a próxima reforma da PAC a Europa tem uma grande oportunidade, pela primeira vez a política agrícola europeia está a ser desenhada para responder às necessidades locais das populações. Os países do Sul da Europa, como Portugal, Espanha, Itália, Grécia, vão poder desenvolver medidas para evitar a erosão do solo, a maior ameaça aos seus sistemas agrícolas. A tecnologia digital e o big data vão permitem transparência e escalabilidade na execução da PAC. Os agricultores vão ter apoios para produzir os alimentos que a Europa precisa e para implementar medidas que protejam o ambiente.

Estamos na 11ª edição do Fórum para Futuro da Agricultura, organizado pela Syngenta e a European Landowners Association, em Bruxelas, que balanço faz do decorrer desta conferência?

Aprendi muito hoje, o FFA convida a ouvir e a refletir. Estive esta manhã num debate com uma organização que promove a alimentação saudável (GAIN- Global Alliance for Improved Nutrition) e numa tinha pensado no papel que nós (indústria de proteção das plantas e sementes) temos. Veja-se o exemplo do melhoramento de variedades vegetais, temos trabalhado para obter frutas e hortícolas como maior duração na prateleira dos supermercados, mas acabámos por perder o sabor e o aroma de um tomate acabado de colher. Com as novas tecnologias genéticas podemos trazer de volta o sabor original dos vegetais. É este o papel de empresas como a Syngenta. Na realidade tomamos consciência destas questões quando dialogamos com pessoas e entidades que se dedicam à defesa da alimentação saudável, ao combate à malnutrição e à obesidade. É esta a grande mais-valia do FFA.

Painel de debate “Transitando para um sistema alimentar sustentável para um futuro saudável” no Fórum para o Futuro da Agricultura, em Bruxelas