Consórcio do projeto TomAC demonstra potencial da Agricultura de Conservação na cultura do tomate para indústria
O consórcio de investigação TomAC apresentou hoje num dia de campo os resultados do ensaio na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira que comprovam maior rentabilidade da cultura do tomate nos sistemas de produção em Agricultura de Conservação.
Os parceiros do projeto ‘TomAC- Produção Sustentável de Tomate para Indústria através da Aplicação dos Princípios da Agricultura de Conservação’ organizaram um Dia de Campo para apresentação de resultados e visita ao campo de ensaio, na Lezíria Grande de Vila Franca de Xira, no dia 18 de julho, no qual participaram agricultores, técnicos do setor do tomate e entidades oficiais.
O consórcio do projeto ‘TomAC é composto pelo Ag-Innov- Centro de Excelência do Grupo Sugal, o Grupo Sogepoc, a Syngenta, o MED-UÉvora (Instituto Mediterrâneo para a Agricultura, Ambiente e Desenvolvimento da Universidade de Évora) e a APOSOLO (Associação Portuguesa de Mobilização de Conservação do Solo).
Os resultados obtidos até momento demonstraram o potencial da aplicação dos três princípios da Agricultura de Conservação - 1) Mínima perturbação do solo; 2) Cobertura permanente do solo com plantas ou resíduos; 3) Rotação e diversidade de culturas - na melhoria da sustentabilidade agronómica, ambiental e económica do sistema de produção de tomate de indústria.
Globalmente, “a aplicação dos princípios da Agricultura de Conservação originou um aumento da produtividade de tomate comercializável de 17 a 35 t/ha face ao sistema Convencional”, indica Ricardo Vieira Santos, investigador no MED-UÉvora. “E apesar do aumento nos custos, os sistemas em Agricultura de Conservação viram a sua rentabilidade aumentada, devido ao aumento da produtividade de tomate, o que indica que o acréscimo nos custos se traduziu num investimento”, explica o investigador.
O ensaio compara três sistemas de produção de tomate para indústria: o convencional (em monocultura, com mobilização intensa do solo e solo descoberto durante o Inverno); uma segunda modalidade com mobilização do solo apenas na linha da plantação de tomate (Princípio 1), e em que o solo é ocupado no período de Inverno com uma cultura de cobertura (Princípio 2); e uma terceira modalidade, em que além destes 2 princípios de Agricultura de Conservação, é realizada rotação bienal de tomate com girassol ou milho (Princípio 3).
“Portugal produz tomate indústria em monocultura há mais de 20 anos, e com isso surgiram problemas que nos estão a dificultar o maneio da cultura. Através do projeto TomAC procuramos novas soluções, uma visão mais holística sobre a cultura e um olhar mais atento ao solo, que é o nosso maior ativo”, afirma Pedro Pinho, consultor agrícola do grupo Sogepoc, líder nacional em produção de tomate indústria. “O nosso objetivo não é aumentar demasiado as produções, mas pelo menos mantê-las, e reduzir os custos, tendo a trabalhar para nós o solo, os microrganismos e as culturas de cobertura, juntos como ferramentas de apoio à produção”, explica o consultor.
Neste ensaio, a mobilização apenas na linha para plantação do tomate, deixando a restante extensão de solo não perturbada e coberta com resíduos da cultura de cobertura, mostrou ser uma alternativa viável à mobilização convencional de toda a extensão de solo. Para mobilizar o solo na linha foi adaptada e utilizada uma multi-fresa e no plantador de tomate foi adicionado um pequeno disco, que recorta ligeiramente o solo e afasta os resíduos vegetais, permitindo a plantação uniforme do tomate.
A ocupação do solo com uma cultura de cobertura (mistura de gramíneas, leguminosas e brássicas) durante o Inverno, “permitiu a retenção de 92 a 123 kg de azoto/ha, face a apenas 5 kg/ha retidos pela vegetação espontânea no sistema Convencional”, sendo “a produtividade de biomassa a chave para a maior retenção de azoto obtida pela cultura de cobertura”, realça Ricardo Viera Santos (MED-UÉvora). O azoto retido pela cultura de cobertura fica protegido de ser lixiviado e será devolvido novamente ao solo após a decomposição dos resíduos, podendo ser utilizado pela cultura principal, o tomate de indústria.
“A Agricultura de Conservação é atualmente um tema fulcral, visto que vivemos alterações climáticas constantes, escassez de recursos, e imposições políticas agrícolas que nos obrigam a olhar de forma diferente para as nossas culturas. Este projeto reúne um conjunto de possíveis soluções para estes desafios, sejam eles a nível de melhoramento da qualidade e estrutura do solo, redução de operações e acima de tudo procurar alternativas sustentáveis na prática da cultura do tomate de indústria que nos permitam de forma eficiente aproveitar ao máximo os nossos recursos”, afirma Ana Casimiro, gestora de coordenação de ensaios do Ag-Innov, o Centro de Excelência do Grupo Sugal, que visa potenciar o desenvolvimento sustentável e competitivo do setor do tomate indústria, pela via da inovação, demonstração e difusão de conhecimento técnico e científico.
“O projeto TomAC tem a virtude de nos ajudar a perceber os mecanismos e as potencialidades da Agricultura de Conservação na cultura do tomate indústria, e assim permitir à Syngenta encontrar as melhores soluções que ajudem os agricultores produtores de tomate a serem mais eficientes na resolução dos problemas que têm aparecido nas últimas décadas devido à produção do tomate em sistema de monocultura. As nossas novas soluções biológicas, as novas ferramentas digitais como o InterraScan, integrado na nossa plataforma de agricultura digital – a Cropwise -, entre muitas outras, em conjunto com a aplicação de práticas de Agricultura de Conservação, permitirão ao agricultor garantir a sustentabilidade da sua atividade nas três vertentes económica, social e ambiental”, afirma Felisbela Torres de Campos, Responsável de Sustentabilidade da Syngenta em Portugal.
“A grande conquista é regenerar e preservar o solo, trabalhando com outro tipo de ferramentas, e assim reduzir o impacto crescente das infestantes, pragas e doenças, que têm sido mais difíceis de controlar, sobretudo quando os agricultores têm de ser cada vez mais eficientes na utilização dos produtos fitofarmacêuticos e fertilizantes convencionais, pela falta de soluções disponíveis para a cultura do tomate, ou por imposição das novas medidas do PEPAC”, explica a responsável da Syngenta.
A APOSOLO considera que este tem sido um projeto muito desafiante, mas que comprova que é possível adaptar a Agricultura de Conservação à cultura do tomate para indústria.
“As chuvas no cedo em solos tão argilosos dificultam a colheita, fazendo com que as máquinas compactem o solo, façam rodados fundos, o que depois implica mobilizações para nivelar o terreno. As chuvas que se podem prolongar, em alguns anos, até tarde na primavera, dificultam a instalação da cultura de cobertura. No entanto, os resultados do projeto permitem concluir que, com algumas práticas da Agricultura de Conservação, nomeadamente a rotação e as culturas de cobertura, os resultados da cultura do tomate são melhores e os benefícios para o solo são muito positivos”, afirma Gabriela Cruz, presidente da APOSOLO, alertando que “depois da aprendizagem que o TomAC nos revela, terá sempre que haver vontade dos produtores para a mudança, para adotarem as práticas de Agricultura de Conservação”.
Alguns dos ensinamentos obtidos nestes quatro anos de ensaio incluem que a oportunidade das operações é fundamental, porque as condições climáticas nem sempre colaboram; a rotação e a cultura de cobertura são práticas com grandes benefícios para as culturas e o solo e quanto mais cedo fizermos os camalhões do tomate e os cobrirmos com uma cultura de cobertura de espécies variadas, melhor será o resultado da cultura do tomate.