Pedrado em Pomóideas

Pedrado

O pedrado das pomóideas é uma doença de presença constante em todos os pomares do país. Existem anos nos quais, na ausência de medidas de protecção, todos os frutos seriam infectados.

É da conjugação temporal da presença de água sobre as plantas e da temperatura ideal que surjem as condições propícias ao aparecimento do pedrado em cada Primavera.

A infecção do pedrado é condicionada pelo estado de desenvolvimento das árvores , pelo seu estado nutritivo, pelo nível de inóculo do ano anterior e pelo clima (chuva ou orvalho e temperatura). Apesar de ser nos anos com Invernos chuvosos e frios que o nível de inóculo, na Primavera é máximo, é nas Primaveras chuvosas e quentes que o nível de infecção das plantas é mais elevado. Um nível muito elevado de azoto nas plantas potencia o problema enquanto que um bom nível de cálcio o atrasa. Os frutos e as folhas jovens são os mais afectados.

Nas fruteiras, cada espécie de pedrado apresenta a sua especificidade cultural. As macieiras são infectadas pela espécie Venturia inaequalis, enquanto que as pereiras são infectadas pela espécie Venturia pirina.

Os pedrados são as doenças mais importantes das pomóideas em todo o mundo, sendo responsáveis por quebras acentuadas de produtividade dos pomares, com acréscimos de custo de selecção nas centrais fruteiras.

O período de maior susceptibilidade inicia-se quando os corimbos das flores se tornam visíveis e termina quando os frutos atingem o seu desenvolvimento máximo, normalmente a fase de colheita. As plantas são particularmente susceptíveis durante a floração e no vingamento dos frutos. Se durante a floração existir chuva, o fungo infecta os frutos. Estas primeiras infecções são denominadas primárias e são muito importantes para o desenvolvimento futuro da doença.

Quando o nível de infecções primárias é muito elevado é muito difícil controlar a doença durante o resto do ciclo cultural, pelo que os prejuízos serão avultados.

Na presença de água os ascósporos (esporos primários) são libertados para a atmosfera, pelas folhas mortas do ano anterior. Na atmosfera os esporos espalham-se pelas plantas, favorecidos pela acção do vento, atingindo folhas e frutos. Quando chove, os ascósporos germinam e penetram nos tecidos vegetais. Os sintomas são visíveis 12 a 15 dias após a infecção. As temperaturas compreendidas entre 17°C e 22°C, conjugadas com chuva, são as mais favoráveis à progressão e infecção destes fungos. O período mínimo de água sobre as plantas terá de ser superior a 10 horas para que a infecção se produza.

Os sintomas da infecção dos pedrados são manchas de cor negra, circulares, sobre folhas e frutos e, mais raramente sobre os ramos (somente no caso da pereira).

As manchas aparecem com contorno difuso e muito ténues ao início, tornando-se bem definidas nos dias seguintes ao seu aparecimento, podendo causar fendas nos frutos, durante o seu crescimento.

Biologia

Estes fungos passam o Inverno no interior de folhas, na manta morta do solo. Durante esta estação a fase sexual dos fungos desenvolve-se no interior das folhas, produzindo pseudotecas que contém no seu interior ascos e ascósporos. No final do Inverno os ascósporos estão totalmente desenvolvidos e prontos para a emissão atmosférica. Esta ocorre durante os períodos de chuva onde milhões de ascósporos são arrastados para a atmosfera pelo vento. Assim que estes esporos aterram, germinam e penetram os tecidos vegetais, dando lugar à infecção. A maioria dos ascósporos é projectada durante a floração das pomóideas.

Alguns dias após a infecção (12 a 15 dias) aparecem as lesões na forma de manchas negras circulares. As próprias lesões produzem novos esporos, agora chamados de conídios, iniciando a fase assexual, a que propaga a doença até ao final do ciclo vegetativo das pomóideas. Podem ocorrer tantos ciclos de infecção quantos os períodos de água sobre as plantas com duração superior a 10 horas.

Factores favoráveis à progressão do Pedrado

  • A presença de orvalho conjugada com a temperatura elevada durante o Verão pode desencadear infecções secundárias de pedrado.
  • Um nível de infecção elevado, no ano anterior, ou a vizinhança de pomares abandonados aumenta o risco de infecção.
  • O nível elevado do nutriente azoto, ou o baixo nível de cálcio amplificam o nível de infecção.
  • Existe diferente susceptibilidade varietal à infecção do pedrado.
  • Temperaturas de 20°C são óptimas para o desenvolvimento destes fungos os quais, no entanto, progridem com temperaturas de 2°C a 25°C. As infecções são mais lentas a temperaturas baixas mas não são inibidas.
  • São necessárias, pelo menos, 10 horas de água sobre as plantas para a infecção ocorrer. Se a temperatura for baixa, a película de água precisa de uma maior duração para um nível de infecção equivalente.
  • Os sintomas aparecem 12 a 15 dias depois das infecções.

Conjugando várias destas condições favoráveis pode produzir-se um ambiente altamente favorável ao aparecimento de ataques massivos nos pomares de macieira e pereira.

A contenção das infecções primárias é a chave no controlo da doença ao longo do ciclo vegetativo dos pomares.

A produção de frutos com caracteristicas adequadas aos mercados actuais deve basear-se na escolha e utilização criteriosa dos meios de protecção fitossanitária, nomeadamente, na oportunidade da realização dos tratamentos fungicidas, os quais deverão ter sempre um caractér preventivo.