Mosca do Mediterrâneo em Pomóideas
Mosca do Mediterrâneo
Dentro da classe Diptera, da família dos tefritídeos, de grande distribuição em todos os continentes, é a que apresenta as espécies que causam mais prejuízos de importância económica nas árvores de fruto.
A família dos tefritídeos inclui numerosas espécies que se caracterizam por se alimentarem dos frutos maduros de muitas espécies de árvores de fruto cultivadas pelo Homem.
Destacar as espécies de Bactrocera, género que inclui B. dorsalis, B. cucurbitae, B. zonata, B. oleae e B. tryoni e que costumam encontrar-se na Ásia, Europa (bacia mediterrânica) e Oceânia.
As espécies do género Anastrepha, que inclui pragas graves como A. ludens, A. fraterculus, A. obliqua e A. serpentina, costumam encontrar-se no centro e sul do continente americano. A espécie Rhagolethis, principalmente R. cerasi e R. pomonella, encontram-se na Europa central e na América do Norte, respectivamente.
O género Ceratitis, e em particular a sua espécie mais importante, Ceratitis capitata, está espalhado por África, por toda a bacia mediterrânica, América central e do sul e Austrália.
As “moscas da fruta” incluem numerosas espécies que atacam os frutos maduros e geralmente mostram elevada polifagia, salvo raras excepções. A sua adaptabilidade climática é variável, algumas vezes muito elevada, e sobretudo pouco previsível. Tudo isto, aliado ao facto de muitas espécies estarem restritas a determinadas regiões ou continentes, levanta a necessidade de evitar a propagação através do comércio internacional das espécies desta família, o que faz dele talvez o grupo mais importante de pragas de quarentena na legislação fitossanitária em todos os países do mundo. As restrições no comércio impostas pela presença destes insectos traduzem-se na proibição da importação de determinadas zonas, na obrigação de tratamentos de desinfecção de diversos tipos. Isto constitui um grande obstáculo ao livre comércio entre os países.
Descrição
A ceratitis capitata (mosca da fruta ou do Mediterrâneo) é um insecto holometabólico (refere-se ao processo de metamorfose de um insecto que se completa em quatro estados: ovo, larva, pupa jovem e pupa adulta) originário de África.
Ovo: É redondo e alongado. Possui cor branca logo depois de posto e amarelo pouco depois.
O seu tamanho médio é de 0,9-1,1mm x 0,2 mm. A superfície é lisa à vista desarmada mas apresenta micro-retícula de malha hexagonal.
Larva: É ápode, pequena e com a parte anterior situada no extremo mais delgado do corpo, enquanto a parte posterior é mais larga e com uma forma mais truncada. É esbranquiçada e, depois de efectuar duas mudas e completar o seu desenvolvimento, apresenta uma cor branca ou amarela com manchas creme, alaranjadas ou avermelhadas, devido à presença de alimentos no seu interior. O seu tamanho é de 7-9 mm x 2mm. A vida de larva prolonga-se por 6-11 dias em condições favoráveis.
Pupa: Depois da última muda, a camada protectora adopta uma forma oval com a superfície lisa e uma cor castanha. Quando a pupa eclode e surge como adulto (entre 6-15 dias), a pupa abre transversalmente como uma carapuça, por uma das extremidades.
Adulto: Tem um tamanho de 4-5mm de comprimento e possui cores vivas (amarelo, branco e preto).
O seu tórax é cinzento com manchas negras e pêlos largos. O abdómen apresenta listas amarelas e cinzentas. As patas são amareladas. As asas são iridescentes, com várias manchas acinzentadas, amarelas e negras.
Os machos distinguem-se facilmente das fêmeas por apresentarem na parte da frente uma grande seta que termina numa paleta romboidal de cor negra, característica que não se encontra no resto das espécies de tefritídeos de importância agrícola.
A fêmea possui um abdómen com forma cónica terminando num grande oviscapto possuidor de abundantes órgãos sensoriais amarelos e pretos.
Ciclo Biológico
A actividade da Ceratitis capitata aumenta na primavera, atingindo os máximos de actividade no verão e podendo as pupas permanecer inactivas durante o inverno, se as condições climatéricas não forem favoráveis. O ciclo dura entre 21 a 30 dias em condições óptimas.
No início do amadurecimento dos frutos começa a desova, média de 30-80 por cada mosca, atingindo um total de 500 ovos por fêmea. O fruto apresenta os primeiros sintomas do ataque ao 8º-10º dia após a desova.
Quando as temperaturas são favoráveis, os ovos eclodem rapidamente (uns 2 dias) e as pequenas larvas penetram até ao interior do fruto para se alimentarem da polpa, a vida da larva dura 6-11 dias em condições favoráveis. Os frutos atacados caem e a larva sai do mesmo para passar a metamorfose debaixo do solo a uma profundidade de 1-25 cm. Se o fruto permanecer na árvore, as larvas podem saltar para o solo. A pupa tem a forma de um pequeno túnel, de cor castanha e superfície lisa. No seu interior ocorrem uma série de transformações no insecto, que terminam com a saída do adulto, que em circunstâncias propícias demora 6-15 dias.
A duração do ciclo da Ceratitis depende da temperatura, reduzindo a sua actividade durante o inverno, que pode passar em estado de pupa. Quando a temperatura sobe acima dos 14ºC as moscas voltam ao seu estado activo. Nas zonas de clima XXXXXXX.
Quinze minutos depois da eclosão da pupa, os tegumentos da Ceratitis capitata endurecem e adoptam a coloração típica da espécie, podendo começar logo a voar, pois as suas asas estão já desenvolvidas, embora não seja ainda sexualmente activa. Para atingirem a maturidade sexual, necessitam alimentar-se com proteínas e açúcares que encontram nos frutos maduros disponíveis.
O encontro entre macho e fêmea dá-se quando o macho emite uma secreção odorífera (atraente sexual) que é reconhecida pela fêmea, facilitando assim o encontro e a cópula. Uma cópula no ciclo de vida da fêmea é suficiente para a fertilização contínua dos ovos, pois no seu espermatóforo armazena espermatozóides do macho. Atraídas pelo odor e pela cor (preferem o amarelo e o laranja), a fêmea fecundada desova na polpa da fruta. Se os frutos não estiverem disponíveis podem ficar muito tempo sem desovar, fazendo-o quando as condições forem favoráveis, sem necessidade de voltar a copular.
Em condições favoráveis de disponibilidade de fruta, em Espanha podem produzir-se entre 6 a 8 gerações. A primeira geração produz-se no mês de Março-Abril sobre os primeiros pomares, como a nêspera e o alperce ou sobre os citrinos tardios.
Segundo citações da bibliografia da segunda metade do século XX, no Levante Espanhol a sequência biológica da Ceratitis capitata é a seguinte: no inverno começa o seu ataque sobre as laranjas e tangerinas, passando depois para os alperces na primavera para completar a segunda geração. Ao começar o verão inicia-se a terceira geração sobre os pêssegos, aparecendo em Agosto a quarta geração já sobre os pêssegos e peras. A quinta geração aparece em Setembro, em que os frutos atacados são: pêssegos, figos, dióspiros, etc., e começam a picar as laranjas e tangerinas ainda verdes, podendo fazer a desova em Outubro sobre as uvas tardias. A sexta geração desenvolve-se sobre os pêssegos tardios, figos da Índia, laranjas e tangerinas e, se a temperatura se mantiver temperada, ainda pode eclodir uma sétima geração sobre laranjas e tangerinas. Podem ainda atacar as ameixas, nêsperas, maçãs, romãs e quase todos os frutos tropicais ou subtropicais: papaia, manga, abacate, goiaba, anona, tâmara, etc.
Origem e Distribuição Geográfica
Esta praga tem origem na costa ocidental africana, onde vivem espécies muito próximas, que desde aí se propagaram a outras zonas temperadas, subtropicais e tropicais dos dois hemisférios.
Ceratitis capitata também recebe o seu nome de mosca do Mediterrâneo, por ser nos países desta Bacia onde tem maior incidência, afectando numerosas culturas, sobretudo citrinos, frutas de caroço e de semente. Ao longo do tempo esta espécie foi-se dispersando pelo mundo inteiro graças ao transporte de mercadorias.
Habitat
A biologia da Ceratitis capitata é muito influenciada pela temperatura e humidade relativa. Bodenheimer definiu 4 zonas segundo a actividade da mosca em cada uma delas:
Zonas | Temperatura (ºC) | Humidade relativa (%) |
Zona óptima (A) | 16-32 | 75-85 |
Zona favorável (B) | 10-35 | 60-90 |
Zona não favorável (C) | 2-38 | 40-100 |
Zona impossível (D) | 2-40 | 40 |
Na zona classificada como D, os danos serão inestimáveis se as condições se mantiverem durante 1 a 3 meses, em zonas menos favoráveis (C) e favoráveis (B) a densidade da população será relativamente baixa, enquanto que as invasões e danos se darão caso as condições persistam durante vários meses consecutivos, dentro dos limites das zonas classificadas como (A) zonas óptimas ou (B) favoráveis.
Danos
A picada da fêmea durante a desova produz um orifício na superfície do fruto, forma uma mancha amarela em volta, se for em laranjas e tangerinas, e de cor castanha nos pêssegos.
O orifício feito pelo oviscapto supõe uma via de entrada de bactérias e fungos que provocam em muitos casos o apodrecimento do fruto.
Caso se embalarem frutos picados com larvas em fase inicial de desenvolvimento, a sua evolução contínua durante o seu transporte.
Os danos mais significativos, dependendo das zonas, costumam verificar-se nas variedades mais precoces de tangerinas, laranjas e em variedades de pêssegos.