Tripes em Tomate

Tripes

Solucione as tripes em tomate. Conheça as doenças que esta praga, crescente em Portugal, pode provocar na sua cultura de tomate e saiba como protegê-la.

As tripes são uma praga cuja importância tem vindo a crescer em Portugal. Não é propriamente pelos danos directos que este insecto produz mas pelo conjunto de doenças que este pode induzir na cultura do tomate, muito em especial o TSWV (Tomato spotted wilt vírus), de que se falará mais adiante. O TSWV é uma doença que nos anos 90 dizimou centenas de hectares na Península de Setúbal e que praticamente levou à extinção da cultura nessa região, e que nos últimos anos tem-se feito notar, embora ocasionalmente, em certas zonas do Ribatejo, em especial nos concelhos de Salvaterra de Magos e de Almeirim.

Por serem vectores desta doença e por apresentarem populações relativamente abundantes em Portugal, são especialmente alvo da nossa atenção a Frankliniella occidentalis e a Thrips tabaci.

Os estragos directos que podem ocasionar são o resultado da alimentação.

Frankliniella occidentalis

É uma espécie de elevada capacidade de reprodução e a que mais eficientemente é vectora do vírus do bronzeamento (TSWV). Esta espécie é originária da América do Norte e a sua expansão intercontinental e regional tem-se feito á custa do comércio de material de propagação e de plantas ornamentais.

Morfologia e Bioecologia

As Fêmeas adultas são de maior tamanho (1,2 mm) que os machos (0,9 mm), estes espécimes têm coloração variável, consoante a época do ano e o ciclo biológico, mas por norma os machos são mais claros. As formas mais jovens são de tonalidade amarelo claro e vão escurecendo para castanho ao longo da época estival, facto que permite distinguir das espécies não vectoras que nesta época são de cor escura. As gerações invernantes são acastanhadas, exceptuando o tórax e a cabeça que chegam a ser alaranjadas.

A reprodução pode sexuada e/ou por partenogénese, sendo que a última é menos frequente e só origina machos. As fêmeas adultas fazem as posturas inserindo os ovos sob o tecido vegetal. O período de incubação segundo Robb (1989) é a temperaturas constantes de 10,1 dias a 15ºC e de 2,4 dias a 35ºC. Logo após a eclosão as larvas começam a alimentar-se e seguem-se dois estágios larvares (L1 e L2), as larvas em L2 são muito mais vorazes que as L1. Medeiam cerca de 6 dias a 25ºC entre a eclosão e o final da fase larvar L2, altura em que estas abandonam a planta para realizar a ninfose no solo a poucos centímetros de profundidade ou nos detritos vegetais. A ninfose dura cerca de 3,5 dias a 25ºC.

A partir do momento que passamos a contar com temperaturas diárias de 25ºC devemos dar especial atenção a esta praga na produção de tomate, uma vez que a estas temperaturas temos uma duração do ciclo biológico de apenas 13 dias e uma maior fecundidade (135,6 ovos) por fêmea (Roob, 1989). Acima dos 35ºC a mortalidade dos estágios larvares é muito elevada, reduzindo-se enormemente o poder multiplicativo, uma vez que a taxa de fecundidade desce para os 5,1 ovos por fêmea.

A distinção entre esta espécie e a Thrips tabaci não é muito fácil de se fazer mas no entanto existem algumas diferenças:

  • As larvas e as ninfas da Frankliniella occidentalis são de dimensões superiores e adquirem uma coloração mais amarelenta;
  • Os adultos da Frankliniella occidentalis têm as antenas compostas por 8 artículos contra apenas 7 da Thrips tabaci.

Thrips tabaci

Esta praga é originária da zona mediterrânica e tem como cultura preferencial de ataque a cebola. No entanto também se encontra num vasto leque de culturas (feijoeiro, couves, cenouras, cucurbitáceas, beterraba, etc), entre as quais o tomateiro. Tal como a Frankliniella occidentalis, este insecto serve de vector do vírus do bronzeamento (TSWV), daí a elevada importância que é dada a ele na produção de tomate de indústria.

Morfologia e Bioecologia

A olho nu não é possível identificar com 100% de certeza uma tripes como sendo Thrips tabaci, dada a elevada semelhança entre esta espécie e diversas outras, entre as quais a Frankliniella occidentalis. Nestes caso é preferível recorrer ao microscópio.

As fêmeas adultas são aladas, medem entre 0,9 e 1,2 mm e a coloração do corpo, tal como na Frankliniella occidentalis, é variável consoante a época do ano, no Inverno mais para o castanho e na época estival amarelado. Os machos, mais raros de se encontrar, são de envergadura mais reduzida, mais delgados e quase sempre mais claros que as fêmeas. A reprodução é essencialmente assexuada, sendo pois os ovos de origem partenogénica. Uma fêmea, que vive duas a três semanas, tem a capacidade de realizar cerca de 3 dezenas de posturas. Os ovos são depositados imediatamente sob a epiderme dos tecidos mais tenros da planta. Quando são postos apresentam uma coloração branca e com o desenvolvimento que dura de 5 a 10 dias, os ovos vão adquirindo uma coloração alaranjada.

Assim que eclodem, as larvas começam a alimentar-se nas zonas sombrias de tecidos mais tenros, o período larvar compreende dois estágios, em que o segundo é o de actividade mais intensa. A fase larvar a 30ºC dura cerca de 6 dias e a coloração vai do esbranquiçado ao amarelado. No fim da fase larvar o indivíduo procura o solo segue-se a ninfose, que a 30ºC ronda os 4 dias (Lall e Singh, 1968).

O ciclo de vida deste insecto a 25ºC dura cerca de 16 dias e alonga-se para cerca do dobro com temperaturas de 15ºC.

Os danos directos que as Tripes podem ocasionar na cultura do tomate são consequência da alimentação das larvas e dos indivíduos adultos à base dos tecidos do tomateiro, em especial de folhas. Os danos podem verificar-se em ambas as páginas das folhas, e traduzir-se por marcas prateadas e por zonas necróticas, que no caso das folhas jovens conduz para deformações no seu desenvolvimento. Outro tipo de dano, mais específico da espécie Frankliniella occidentalis, é resultado da postura de ovos em pequenos frutos, e traduz-se por um conjunto de pequenos pontos negros envoltos por uma auréola clara.