Infestantes na cultura da vinha- reconhecer e identificar para um controlo sustentável

Culturas permanentes
cultura da vinha


Na vinha, como na maioria das culturas, as infestantes podem ser um problema grave quando não fazemos uma boa gestão do seu controlo, independentemente dos métodos utilizados para o efeito. As infestantes, podem causar prejuízos significativos na cultura, se não forem geridas convenientemente. Não só pelo consumo dos recursos existentes no solo (água e nutrientes), mas também pela criação de microclimas que podem ser benéficos ao desenvolvimento de condições para o aparecimento de doenças nas fases mais críticas do ciclo vegetativo da videira.


Independentemente dos métodos utilizados (que veremos mais adiante), estes devem visar o objetivo principal (controlo das infestantes), mas também ter em consideração um conjunto de efeitos indiretos que cada um dos métodos (ou conjunto) acarreta. Devemos ter em atenção, as medidas de conservação de solo (proteção contra a erosão), gestão de matéria orgânica (efeito na fertilidade dos solos), a biodiversidade, o microclima na vinha e a relação das infestantes com hospedeiros de pragas e refúgio para auxiliares.
 

É fundamental conhecer o tipo de infestantes, o seu ciclo de vida e o modo como reagem às diferentes técnicas de combate para delinear uma estratégia eficaz de controlo.


É de grande importância conhecer o tipo de infestantes nas nossas parcelas, assim como uma correta identificação das mesmas, para que de alguma forma consigamos delinear uma estratégia de combate adequada ao seu ciclo de vida, seja qual for o método de controlo.
 

O que é uma infestante?


Pelo conceito mais generalista, pode considerar-se uma planta que cresce onde não é desejada, ou que interfere com a nossa cultura sem que seja desejada. Conhecer a biologia e a ecologia das infestantes reveste-se de particular importância na hora da definição das estratégias para o seu controlo. Se considerarmos simplesmente a classificação quanto à duração do seu ciclo biológico, podemos categorizá-las em anuais, bianuais e perenes ou vivazes. As infestantes anuais completam o seu ciclo durante uma estação de crescimento e reproduzem-se através de semente, podendo ser anuais de Primavera-Verão (terminam o ciclo no Outono) ou Outono-Inverno (terminam o ciclo na Primavera/Verão), neste último caso, estas vegetam em dois anos civis distintos, contudo o seu ciclo é tipicamente anual. As espécies bianuais apresentam um ciclo de vida superior a um ano e inferior a dois anos. No primeiro ano (fase de desenvolvimento vegetativo) a planta desenvolve a parte aérea e acumula substâncias de reserva, principalmente em raízes tuberosas, seguindo-se uma fase de repouso vegetativo. No 2º ano desenvolve-se novamente a parte aérea a partir das reservas acumuladas, seguindo-se a formação da inflorescência e a produção de sementes. Não confundir com as infestantes de ciclo anual Outono/Inverno. As espécies perenes ou vivazes têm um ciclo vegetativo superior a dois anos e embora possam produzir sementes e reproduzirem-se desse modo (perenes simples), a sua reprodução faz-se essencialmente através de órgãos vegetativos (bolbos, bolbilhos, tubérculos, rizomas, estolhos) que regeneram a parte aérea. Estas infestantes, durante cada ciclo anual de crescimento, produzem sementes e acumulam reservas nos órgãos reprodutivos.
 

Principais infestantes da vinha


As infestantes que afetam a vinha podem variar de região para região, no entanto, apresentam-se aqui algumas das mais comuns nas vinhas portuguesas.
Dicotiledóneas Anuais e Bianuais (numeradas de 1 a 15); Gramíneas Anuais (16, 17); Dicotiledóneas vivazes (de 18 a 22) e Gramíneas vivazes (23 e 24). Fonte: “Infestantes na Vinha”, M. Lurdes Silva, Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral, Divisão de Proteção das Culturas, 2007[/caption]
O viticultor tem ao seu dispor vários métodos para o controlo das infestantes (culturais, biológicos, mecânicos ou químicos), onde pode fazer abordagens distintas para lograr o seu objetivo através de: monda manual/mecânica, monda térmica, coberturas de solo – “mulching”, sementeira de espécies nas entrelinhas ou taludes, ou monda química entre outras. A combinação destas técnicas visa reduzir a competição causada pelas infestantes, por solo, espaço, luz, nutrientes e água na nossa cultura. Se com a monda mecânica (corte ou mobilização de solo), através de várias alfaias disponíveis no mercado, conseguimos um bom controlo das infestantes, por outro lado, quando é efetuada fora de tempo ou em terrenos mais propícios ao escorrimento superficial, estamos a fomentar os fenómenos erosivos do solo. Existem também no mercado algumas soluções de robótica que permitem controlar as infestantes da vinha de forma autónoma. Um exemplo é o robot TED, desenvolvido pela empresa francesa Naio Technologies. No caso da monda térmica, buscamos um controlo das infestantes através da rutura das paredes celulares das infestantes por acção por exemplo do fogo, vapor de água, etc. Em algumas situações está-se a utilizar esta técnica também para controlo dos ramos ladrões da videira e com uma só passagem, conseguimos realizar duas tarefas, tal como outras técnicas têm os seus benéficos e inconvenientes. No que se refere ao “mulching”, algumas regiões do país, ainda que não diretamente, têm um “mulching” natural, como por exemplo o xisto na região do Douro, que acaba por fazer um recobrimento natural do solo, conseguindo de alguma forma o controlo de infestantes e, de forma indireta, evitar de alguma forma o arrastamento superficial das partículas do solo por ação da água. Em muitas regiões aplicam-se as técnicas de enrelvamento (entrelinha) permanente de Outono-Inverno, ou mesmo todo o ano, onde o “controlo” é feito através de cortes mecânico ou através do pastoreio de ovelhas. Outra das opções é a luta química, onde a gestão é feita através da aplicação de herbicidas, que poderemos classificar entre herbicidas de aplicação pré-emergência das infestantes (ou acção residual) e os herbicidas de aplicação em pós-emergência das infestantes (ou acção foliar) ou mistos (herbicidas com acção residual e foliar).
 

Herbicidas de pré-emergência ou residuais


Os herbicidas de pré-emergência ou residuais têm uma ação fraca ou nula sobre as infestantes já nascidas, o seu efeito persiste no tempo (mais ou menos longo), sendo por isso designados como herbicidas residuais. São absorvidos pelas jovens raízes em crescimento, embora alguns deles possam também ser absorvidos pelas infestantes na sua fase de plântula, sendo esta fase referenciada como de pós-emergência precoce. São eficazes no combate de espécies anuais. Este tipo de herbicidas deve ser aplicado preferencialmente com o solo nu, para que consigamos ter um efeito anti-germinativo desejado e um melhor controlo das infestantes.
 

Herbicidas de pós-emergência ou de acção foliar


Permitem eliminar as infestantes já nascidas e só por exceção controlam a germinação das infestantes. Penetram na infestante através das partes aéreas. Após a aplicação, a fração de herbicida que vai diretamente para o solo ou fica inativa ou se degrada rapidamente, não tendo, portanto, qualquer persistência. Os herbicidas de acção foliar, quanto ao seu modo de acção, subdividem-se em:
 

  • Herbicidas de contato (a ação exerce-se à volta do ponto de impacto e não são transportados dentro da planta, destruindo os tecidos verdes expostos) e
  • Sistémicos (são absorvidos e transportados por toda a planta através da seiva e podem destruir os órgãos subterrâneos da infestante). Quer os herbicidas de pré-emergência quer os de pós-emergência podem apresentar sistemia. No caso dos herbicidas de pós-emergência a sistemia é de extrema importância, porque permite destruir os órgãos subterrâneos associados à reprodução vegetativa de espécies perenes.


Dentro dos herbicidas de acção foliar podemos ainda ter outra divisão entre:
 

  • Herbicidas seletivos – conceito dirigido à cultura que queremos proteger, ou seja, quando aplicado na vinha em pleno estado vegetativo, não lhe provocam fitotoxidade (p.e. os antigramíneas)
  • Herbicidas não seletivos – destroem ou afetam todo o tipo de espécies vegetais que contatam, podendo ser sistémicos ou contacto.


 

Herbicidas mistos (pré e pós-emergência) ou de acção residual e foliar

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Minsk - Lolium spp

Estes herbicidas de aplicação à parte aérea das infestantes e ao solo devem ser aplicados durante o repouso vegetativo no período Outono-Inverno da cultura da vinha. Atuam sobre as espécies presentes no momento da aplicação e impedem, durante algum tempo, novas emergências, devido à sua persistência no solo. Exemplo de um herbicida misto é o Minsk®. Trata-se de um herbicida sistémico, com efeito residual prolongado, composto por Flazassulfurão a 25%, em forma de grânulos dispersíveis em água (WG), específico para controlo de infestantes, tanto gramíneas como dicotiledóneas e ciperáceas, para aplicações em pré-emergência e pós-emergência precoce, indicado para a cultura da vinha. Deve ser aplicado no fim do Inverno (fevereiro) ao início da Primavera (abril).  Devido ao seu modo de acção e a sua época de aplicação (em que normalmente já temos infestantes num estado de desenvolvimento mais avançado) recomenda-se a mistura do Minsk®, com outro herbicidas de pós-emergência o Touchdown Premium® para garantir um largo espectro de controlo e persistência do tratamento. Touchdown Premium® é uma solução concentrada com 360 g/L ou 28,3% (p/p) de glifosato sob a forma de sal de amónio. É um herbicida sistémico que atua por absorção foliar, homologado para controlar gramíneas e dicotiledóneas anuais e vivazes, em diversas culturas, entre as quais a vinha. A época aconselhada para a utilização de herbicidas é antes da rebentação da vinha, podendo recorrer-se na maioria das vezes a produtos com ação residual ou mistos. Mais tarde, durante o ciclo vegetativo da vinha ou, quando a flora infestante o justifique, podem efetuar-se outras aplicações utilizando produtos com acção foliar (sistémicos não seletivos, sistémicos seletivos ou de contacto), tendo sempre em consideração as indicções de utilização e precauções toxicológicas dos mesmos descritas nos rótulos dos produtos. A aplicação de herbicidas no controlo das infestantes da vinha, exige alguns cuidados, nomeadamente:
 

  • Aplicar com base no volume de calda por hectare (calibração de equipamentos), e atender ao tipo de bicos utilizados (utilizar sempre que possível bicos com redução de deriva – anti-drift) e à cobertura vegetal do solo (infestantes dominantes).
  • Aplicar no momento oportuno, isto é, nos primeiros estados de desenvolvimento das infestantes, e caso a vinha já tenha iniciado a rebentação, eliminar os ladrões do tronco previamente, no caso de herbicidas sistémicos.
  • Ser efetuada sempre em baixo ou médio volume, evitando deriva ou arrastamento do produto para a vinha ou culturas vizinhas (evitar fitotoxidade), e distribuindo-o uniformemente, através de uma gota fina e baixas pressões de trabalho do equipamento.


Em suma, a opção por qualquer uma das técnicas depende principalmente da região e do modo de produção (Produção Integrada, Agricultura Biológica, etc.). Na maioria das vezes a combinação de várias técnicas afigura-se como a melhor solução, permitindo um bom controlo das infestantes (objetivo principal), sem pôr em causa a estrutura e fertilidade dos solos, conseguindo desta forma um controlo de infestantes mais sustentável. Independentemente do tipo de herbicida que vamos utilizar, não devemos esquecer as particularidades de cada substância ativa, no que se refere a:
 

  • Idade da vinha
  • Natureza de solo
  • Tipo de infestantes
  • Épocas de tratamento


Sendo que, atualmente uma das práticas mais comuns consiste na realização de mobilizações na entrelinha e aplicação de herbicida na linha. Em alternativa às mobilizações, em algumas regiões (onde a pluviometria assim o permite) têm-se optado pelo enrelvamento na entrelinha e aplicação de herbicidas e/ou mobilizações na linha através do intercepas.
 

Bibliografia

 

  • Manual “Diferentes Estratégias para controlo de infestantes em viticultura de encosta”, ADVID, Fevereiro 2019
  • “Controlo de Infestantes na Vinha com Enrelvamento”, José F. C. Barros, Departamento de Fitotecnica, Escolas de Ciências e Tecnologia, Universidade de Évora
  • Boletim Informativo ADVID, Março 2011
  • “Infestantes na Vinha”, M. Lurdes Silva, Direcção Regional de Agricultura da Beira Litoral, Divisão de Proteção das Culturas, 2007
  • “Manual de Proteção Integrada do Olival”, Laura Torres (Cordenação técnica), 357-376. 2007